quarta-feira, 27 de abril de 2011

Nem é jabá

Eu e o Dal Molin somos alunos do 2º Semestre de Cinema na FAAP. Assistam os curtas que eu e ele fizemos juntos (ou não) e comentem algo (ou não):


quarta-feira, 20 de abril de 2011

Ruptura

Nasceu. Mas não queria nascer. O homem de branco tascou-lhe um tapa burocrático, e o nascido berrou.
O pequeno ser observou e absorveu o mundo, compreendeu-o absolutamente, sem dúvidas, sem falhas. Em meio a sua epifania, seu pensamento- pastoso e inconstante- era zeppelin. Pairava acima do Conhecimento, acima da Forma, acima da Cor, acima do Impossível, movimentava-se com dificuldade, como se estivesse sendo constantemente puxado por uma infinidade de pegajosos e espessos fios.
O voador estava imerso em substância morna similar ao magma, porém nívea e confortavelmente úmida. Um sorriso invadiu as feições sem identidade do invólucro do voador. A substância evocou as memórias de sua vida anterior: o útero.
Tão rápido quanto o pequeno fora expelido de sua desavisada mãe, o zeppelin dissolveu-se, virou visão, percepção e self-awareness. Chorou, queria voltar! sabia que havia sido real, um real líquido que escapava por entre os dedos, mas real. Não queria este mundo, tão palpável e raso, queria voltar a voar.
O nascido nunca mais voltou ao seu zeppelin, viveu a sua vida neste mundo como um espectador inerte, como se estivesse tentando voar novamente.
Morreu, no momento em que nasceu.

sábado, 16 de abril de 2011

Late Night Thoughts

Ele estava sentado, em uma cadeira de alguma espécie de madeira que não sabia identificar, embora devese saber, devido a fatos da sua infância que não valem a pena citar aqui, mas também não ligava para isso já que ela estava quase a se desmontar; efeito do passar dos anos naquele apartamento que já havia servido de moradia temporária para inúmeras pessoas. Cercado por concreto pelos vários prédios que lhe tapavam a vista da janela de sua modesta sala, ele atravessava o dia de hoje sentado em frente a seu computador, passando o tempo a ler qualquer coisa que lhe parecesse vagamente interessante. Sair era uma opção, enquanto não anoitecesse, mas de qualquer forma, essa idéia não lhe animava. Ele na verdade, esperava. Pelo que esperava nem ele saberia dizer com certeza, porém. Só esperava; os segundos e os minutos indo embora e se perdendo enquanto inúmeras imagens diferentes projetadas pela tela do monitor eram refletidas por seus olhos, brilhando no escuro. Um barulho familiar despertou seus pensamentos do vazio. Se aproximando da janela viu estampada na parede do prédio vizinho as silhuetas das sombras criadas pela luz vinda do apartamento acima. Alguém jantava, e o agudo som do metal arranhando os pratos lhe lembrou de que não tinha comido nada desde manhã. Também percebeu que a noite havia chego. Acendeu as lâmpadas, que com suas luzes brancas davam um tom mórbido a sala de paredes verde-claro, ou só verde... Diferenciar cores também não era um de seus fortes. Ele comeu algo e voltou a se sentar.

De repente, não muito depois, ouviu passos no corredor. Ele se levantou rapidamente e se aproximou da porta, tentando escutar melhor. O som ficou mais alto. Ele já estava com a chave na fechadura. A ansiedade tomava conta de seu corpo. Talvez toda a confusão que lhe embaralhava os pensamentos e doía por dentro, as vezes até fisicamente, iria passar. Ele suava, e a inquietação se mostrava em todos os seus membros. Os passos estavam quase a frente da entrada de seu apartamento agora.

E em seguida se afastaram. Ele colou o ouvido na porta com toda a força. Já começava a destrancar a trava para sair, mas o som que veio em seguida, da porta do apartamento vizinho se abrindo, tornou isso desnecessário. Desesperançado, olhou o relógio; eram quase 10 horas da noite. Já estava tarde, não haviam mais chances. Foi dormir. Ela não viria hoje.

Mas quem sabe amanhã.