sexta-feira, 27 de maio de 2011

Full Circles, Parte II: Superfície

Stan se afastou um pouco e ficou em frente a tal caixa. Lars, que estava ainda parado além das estantes se apressou até parar ao lado de Stan.
Este não se apercebeu do companheiro e ajoelhou-se ao lado daquele papelão quase podre e sujo que constituía a caixa que escolhera. Sem hesitar enfiou a mão atráves de um pequeno rasgo e arrancou o topo da caixa, a fazendo tombar para o lado e em consequencia espalhar seu conteúdo pelo chão, até os pés de Lars.
Mais poeira; ele disse, talvez para si mesmo. Stan aproximou-se da massa de pó fosco que se esparramava no chão pela abertura do topo tombado da caixa; ela chegava a cobrir um pouco dos sapatos sociais de Lars. Ele enfiou suas mãos nessa pequenina duna, e a remexeu; podendo perceber a diferença nas qualidades desse pó em especial em relação a poeira do ambiente, assentada pelos anos sobre as inumeras superfícies do lugar. A textura era diferente; seus grãos eram mais espessos e um punhado desse pó pesava muito mais do que parecia; era um material denso. Mas a maior de todas as diferenças se dava em apenas alguns poucos graõs, revelados enquanto Stan revirava a poeira; eles brilhavam, a ponto de sua luminosidade fazer diferença na claridade do ambiente. Lars se abaixou no momento que viu estes; conseguindo pinçar alguns deles, abriu um lenço que carregava no bolso interno do paletó e depositou os grãos que pegou em seu centro, o dobrando até o tecido voltar a sua configuração original. A luz ainda escapava por entre as fibras entrelaçadas do tecido.
Stan se perguntava porque era necessário que os grãos entrassem em contato com o ar - ou pelo menos, não estivessem soterrados pelos outros grãos opacos - para que brilhassem de tal forma. Por sua vez também coletou alguns desses brilhantes, que conseguiu achar revirando mais o bolo de poeira, agora quase que totalmente esparramado pelo chão. Colocou-os dentro de um pequeno saco plástico que levava sempre consigo. Então, fechou em seu punho o pequeno receptáculo e passou a socar as caixas a sua volta nas estantes, abrindo largos furos em todas que atingia. Destas jorravam torrentes da mesma poeira encontrada. Brevemente, por entre essas pequenas cascatas, percebia-se os mesmos grãos luminosos, piscando por entre os milhares outros que caíam. Quando Stan cessou seus ataques, o chão a volta dos dois estava quase que inteiramente coberto de poeira. Vários dos grãos que acharam antes agora resplandeciam na superfície dessa massa; tendo, por obra do acaso, ficado por cima dos não luminosos, embora ainda fossem de uma quantidade diminuta em relação aos outros.
Lars levantou cada um de seus pés, os chacoalhando para tirar a poeira que os cobria. Nesse momento, pôde perceber que perto de um dos pés da estante o pó afundava, como se estivesse em uma ampulheta, escoando por uma minúscula fenda no chão. Ele tentou comentar sobre esse fato.
Stan viu o fio de borracha que pendurava uma das lâmpadas e lhe trazia eletricidade envolver o pescoço de Lars e o levantar do chão, tentando sufocá-lo. Lars não teve tempo de reagir, não podendo fazer mais do que arranhar e rasgar sua própria pele tentando enfiar os dedos de suas mãos entre a borracha e seu pescoço; já vermelho e estriado pelas veias que saltavam conforme o fio se enrolava e o apertava mais e mais. Stan mal teve tempo de raciocinar e correr dos váriois fios que se esticavam em sua direção conforme passava por debaixo deles, correndo de volta até os interruptores. Chegando até estes, os apertou no sentido contrário ao que tinha feito quando entrou nesse estranho lugar. Nenhum fio o alcançou. Apenas ouviu o baque do corpo de Lars no chão e alguns instantes depois seu tossir descontrolado. Ele não podia enxergar mais nada.
Uma terceira presença se fez presente, com sua voz ecoando por entre as estantes.

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